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Em busca da partida perfeita


As olimpíadas têm me propiciado momentos de intensa reflexão sobre perfeccionismo, performance, vitórias, derrotas e competir.


Ao ganhar a medalha de ouro hoje, Rebeca Andrade, ao ser questionada por um jornalista sobre a próxima prova que disputará, disse que gostaria de se divertir e ter a certeza de que fez o seu melhor, o foco não é a medalha. Unindo a isso as desistências tão comentadas e criticadas da Simone Biles e aos tantos esportistas que perderam e os poucos laureados com a vitória, penso muito no trabalho artístico como prática e treino diário e nas redes sociais como as nossas apresentações olímpicas.

O processo de pintar, tentar se aprimorar, passar pelo crivo dos árbitros de plantão, não dos queridos amigos e pessoas que admiram artes - esses só estimulam e apoiam o nosso trabalho, mas as hordas de críticas veladas, pedidos de trabalho de graça, trabalhos recebidos e não pagos e as métricas de um algoritmo cruel e seus dementadores que ganham a vida tentando manter a engrenagem funcionando sempre igual. A minha torcida para esse time competitivo, é estar mais do lado de quem é humano, original e foge das fórmulas, mesmo sendo um pouco refém da amostragem das redes como muitos de nós. As Olimpíadas, sobretudo a Ginástica Artística que me encanta desde sempre, é muito próximo do trabalho da pintura. Os atletas ficam ali em treinos, tombos e vitórias silenciosas durante muitos anos para uma apresentação que não passa de 2 minutos. Lembra muito de algo que eu li tempos atrás, uma fábula talvez, a história do pintor que recebeu uma encomenda para desenhar um galo para o Imperador da China. Ocorre que na data da entrega, os emissários do tal imperador foram ao ateliê buscar a pintura, o pintor pediu mais tempo, ao fim do prazo, o galo não estava pronto. O insultado imperador foi ele próprio reclamar sua encomenda, chegou ao ateliê e se deparou com uma tela em branco. O pintor, então, na presença do Imperador, fez o galo em 5 minutos. Questionado sobre o descumprimento do prazo e a demora, o artista mostra um quarto com esboços de galos em todas as paredes, ali estava o tempo de que necessitava para pintar a obra em alguns minutos.


Estou torcendo para a Rebeca ganhar mais medalhas? Lógico, é a coroação do árduo trabalho dela. Torço pelo fim das redes sociais? Não. Quantos artistas morreram à míngua em outros séculos sem terem a chance de mostrar seus trabalhos para ninguém.

Só sei que sim, continuamos todos em busca da batida perfeita, mas a certeza maior é de que os cães ladram e a caravana passa.


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